domingo, 20 de outubro de 2013
Os negros e as passarelas: outra barreira a vencer
Não vou esperar chegar um Dia da Consciência Negra, ou da Abolição dos Escravos ou de Zumbi pra escrever um artigo desses, senão fica igual Dia do Índio, quando as criancinhas chegam em casa com pena na cabeça e a cara maquiada sem saber sequer um nome de uma nação indígena e a cultura dela.
Tudo isso porque eu acabo de ler um artigo lembrando-me que Deise Nunes, em 1986, foi a última Miss Brasil negra. Considerando que, ao menos conforme as estatísticas oficiais, o Brasil tem cerca de 40% de não brancos (considerando-se o fenótipo e não o genótipo), é de se estranhar que não tenham sido eleitas mais negras.
Atualmente com 45 anos e super bem (pelas fotos, alguém duvida?), Deise soube tirar proveito de seu sucesso e hoje tem uma escola de modelos e misses, onde ensina a desfilar, postura e uma série de outros conhecimentos importantes pra quem quer seguir a carreira.
Na entrevista concedida ao site Ego, Deise conta fatos tristes, que atestam o preconceito e a ignorância de grande parcela da população brasileira, o que nos leva a pensar se realmente o Brasil é esse paraíso racial que tantos apregoam. Chegaram a perguntar a Deise, quando ela concorreu como Miss Rio Grande do Sul, se ela era realmente gaúcha, pois esperavam que, sendo do sul, tivesse mais lógica se ela fosse loira de olhos azuis.
Deise jura que nunca foi vítima de preconceito, tanto que conquistou o Miss Brasil 1986, mas o que acontece é que a realidade fala por si só. Nunca mais tivemos outra Miss Negra. Angola elegeu a sua, que se transformou em Miss Universo: Leila Lopes (abaixo).
Voltando à Deise, o que acontece é que o brasileiro nem sempre fala na cara o que pensa dos negros, mas na surdina tem atitudes preconceituosas. Algumas lojas do comércio relutam em contratar funcionárias por sua cor, preferindo loirinhas e branquinhas. É triste, mas acontece. E ainda me lembro de quando Deise Nunes foi eleita. Ouvi muitos comentários maldosos do tipo: "tantas mais bonitas e foram eleger ESSA NEGRA?". Sim, ouvi tais comentários no Brasil e continuo ouvindo nos dias de hoje algo como: "Olha só... para uma negra até que é bonita". Ou ainda: "Não é preconceito... mas é que eu não acho bonito mesmo". Até quando teremos que conviver com pessoas com esta mentalidade tacanha? Beleza, inteligência, talento e bondade não estão na cor da pele, mas, falando especificamente de beleza, esta também não tem a ver com o tipo, pois todas as etnias têm pessoas bonitas e feias, pois o que conta são os traços harmônicos, altura e medidas (no caso de modelos ou misses), pois mesmo as plus size, embora tenham medidas maiores, delas exige-se que tenham um corpo proporcional. Isso é a lei do mercado e quem não se enquadra vai ser outra coisa: advogada, jornalista, médica, etc, mas o mundo da beleza exige uma coisa só: ser bela. Não se exige ser desta ou daquela cor.
E vou falar em cor aqui, não em raças, pois esta história de raça, conforme já foi falado antes, está mais do que furada e ultrapassada. Não existem raças humanas. Só existe A RAÇA HUMANA, com diferentes cores de pele, de cabelo e de olhos. Raça é pra gato e cachorro, não pra gente, ok? Quem ainda não sabia disso, precisa ler algumas revistas científicas.
Este ano, no concurso Miss Brasil, a baiana Priscila Cidreira ficou em segundo lugar. Parabéns! Será que em breve outra negra ganha a coroa?
Deise, ainda bela, ao lado da atual Miss Brasil, Jakelyne Oliveira. Ela lamenta que não haja mais negras nos concursos e pensa que talvez muitas estejam acanhadas e não se achem belas. Mas eu concordo que definitivamente há uma escassez de negras nos concursos e nas passarelas. E já que tanto se tem falado em cotas nas universidades, por que não trazer uma reflexão sobre o assunto? O ideal é que isso fosse algo natural e não uma imposição, pois sendo uma imposição penso que nem as modelos se sentiriam bem. Talvez o trabalho e a projeção de tantas negras belas e de sucesso ajudasse a elevar a auto-estima das negras e fazer o mercado se voltar pra elas.
Felizmente, eu penso que a realidade está mudando e a indústria cosmética tem acordado para isso e investido em mais produtos e maquiagem para negras.
De modo que elas não precisam ficar presas aos tons nudes de sempre, mas podem ousar com outros tons. Veja que linda ficou esta foto de Leila Lopes.
Os tons de lilás platinado valorizam muito a pele negra da modelo.
E quem disse que negra não pode usar batom escuro? Já ouvi muito essa história. Tudo mentira. Esta maquiagem está simplesmente incrível!
Naomi Campbell foi uma das primeiras supermodels negras, mas em sua época suas capas de revista sempre vendiam menos do que as capas com as brancas Claudia Schiffer ou Cindy Crawford. No entanto, hoje em dia, Naomi é a que continua mais linda e a que mais pega trabalhos.
Ajak Deng tem feito muito sucesso nos dias de hoje e tem feito uns editoriais de moda belíssimos.
O que mais sempre chamou à atenção no rosto de Angelina Jolie? Os lábios super carnudos, não é?
Pois lábios carnudos é que não faltam na maioria das negras. Será que teve que ser uma branca pra lançar a moda, meu Deus?
Aqui a atriz dos anos 70, Pam Grier, está usando uma peruca, mas ela ficou famosa usando seu cabelo black power e foi um divisor de águas na televisão norte-americana e com seus filmes, em que aparecia sempre linda e maravilhosa, super sensual com seus seios fartos, decotes, belíssima e do alto dos seus mais de 1,80m.
Hoje quem tem feito muito sucesso na telona é Kerry Washington, que a cada red carpet é um deslumbre.
Não vou colocar fotos de mulatas do samba aqui, não porque tenho algo contra elas, mas quero fugir da imagem estereotipada e mostrar que a beleza negra vem de várias formas e não é só aceitável numa avenida de carnaval.
Eartha Kitt foi das primeiras a interpretar Mulher Gato.
Décadas mais tarde, Hally Berry interpretou o mesmo papel e figurou na revista People como a pessoa mais bonita do mundo.
Tyra Banks fez a Josephine Baker e ficou super estilosa de modelito e cabelo anos 20.
A brasileira Thaís Araújo foi outra que cortou os cachinhos, inspirada no visual de Josephine, uma das primeiras negras famosas, dos anos 20. O sequinho vestido branco que evidenciou sua cor morena e a deixou ainda mais brilhante. Chamou tanto à atenção, que Uma Thurman, quando a viu, perguntou: "Quem é aquela beldade?".
Beyonce é a diva nº 1 do mundo. Curvas, voz e molejo de black. O legítimo black power.
Rihanna com o corte e cor de cabelo que eu acho que lhe caem melhor.
Tavette Bethel, modelo das Bahamas.
E Jazzma Kendrick já foi apontada como a nova Naomi Campbell.
Jessica White já fez bonito nas passarelas do Victoria's Secret Fashion Show.
Já a brasileiríssima Laís Ribeiro arrasa hoje na Victoria's Secret.
Samira Carvalho é outra modelo que tem se destacado e sem alisamentos.
Negra de olhos verdes, Ildi Silva já foi até citada em reportagem científica da imprensa britânica, mostrando a impressionante miscigenação brasileira.
A pernambucana Emanuela de Paula chegou a ser vítima de preconceito num dos desfiles da São Paulo Fashion Week. Mas quem liga, não é verdade? Emanuela, na minha opinião, fez um dos mais belos catwalks nos mais recentes desfiles da Victoria's Secret e chegou a ser aplaudida de pé.
A força da beleza negra é maior do que o preconceito e prova disso é que o mercado tem se aberto cada vez mais e a cada dia temos visto mais editoriais de moda e mais modelos negras e com todos os tons de pele nas passarelas.
E falar mais o quê? A porto-riquenha Joan Smalls, cuja morenice herdou de negros, é considerada a top número 1 do momento, pelo site models.com.
Afinal, o céu é o limite, para a moda e para todos nós, que podemos ser o que quisermos. Se somos morenas, podemos pintar de loiro, de ruivo. Se somos negras, podemos pintar de loiro, como Beyonce. Se somos loiras, como Sofia Vergara ou Megan Fox, podemos pintar de preto. É possível experimentar e brincar com os diversos estilos e até ser uma gueixa negra, afinal, por dentro, no nosso DNA, não somos uma coisa só, somos uma herança de vários povos. Nunca houve uma ilusão maior que a divisão por raças.
Lindo ensaio de moda infantil com modelos mirins negros.
Definitivamente, black is beautiful. E, mais do que isso, black is fashion. E talvez mais do que isso. Black é um estado de espírito, é uma cultura, é algo que está na alma mesmo de quem não é negro, mas não resiste à herança cultural dos negros, com sua música, dança e diversos ritmos, sempre na vanguarda. Estes, quando não são tolhidos, provam seu valor e que são capazes de ser muito mais do que cantores, sambistas ou jogadores de futebol. Afinal, somos ou não somos iguais? Diferentes na aparência, mas iguais nas nossas potencialidades, direitos e valores.
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