terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fashion History - Chaplin: o polêmico palhaço


Charles Chaplin é um ícone não apenas do cinema mudo. É um ícone do cinema como um todo e de toda uma era mergulhada em controvérsia e polêmica.
O ator, diretor, roteirista e compositor passou fome na infância, na Inglaterra. Sem nada nos bolsos, foi tentar a sorte numa estreante Hollywood, onde seu talento foi reconhecido e ele ficou milionário muito rapidamente.
Fazer uma sátira ao ditador Adolf Hitler, no filme "O Grande Ditador", foi uma decisão ousada, que lhe trouxe muitas críticas, já que na época a máscara do nazismo ainda não havia caído. Quando caiu, Chaplin foi exaltado à condição de gênio e visionário.






Foi dessa infância pobre que o ator tirou inspiração para o seu personagem palhaço, o Carlito, com o chapeuzinho que sempre o acompanhou, seu guarda-chuva e seu andar peculiar, até hoje imitado, e aqui interpretado pelo fotógrafo Márcio Costa, responsável por este belo auto-retrato que integrará a exposição Fashion History, dentre o período dos anos 20, que foram os mais frenéticos para a carreira de Chaplin.



Tempos Modernos é uma de suas obras-primas do período mudo, um filme que continua muito atual.



Mas quem na realidade foi Chaplin? O que estava por trás do retrato do ator-palhaço que fez tantos rirem?


Chaplin viveu tudo muito intensamente e se envolveu amorosamente com diversas mulheres, algumas atrizes de seus filmes e, dentre elas, várias menores de idade, que lhe trouxeram até problemas judiciais. Enfim, a biografia do palhaço tem várias versões, mas algumas delas não são nada condescendentes com o inglesinho de sangue judeu (apesar de ele jurar que seu meio-irmão é que o era, não ele).



Por trás da maquiagem, Charles era um homem bonito, fashion, sedutor, ousado e ciente de seu poder de sedução. Não foi sempre o bom moço, ingênuo e coitadinho, como os personagens de seus filmes, mas de uma coisa pode-se ter certeza: Charles fez o melhor que pôde com o pouco que a vida lhe deu. E seu talento, gostem dele como pessoa ou não, é inegável. Seu discurso mais famoso, no final de "O Grande Ditador" é inesquecível e continua muito atual. Confira:

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.  A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"
Charles Chaplin

2 comentários:

  1. Como sempre seus posts são uma delícia. Continue nos encantando. Bjs Dri e equipe!

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