quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Todas as tragédias do filme Cleópatra



A história de Cleópatra foi uma tragédia só. Com dois amantes mortos e um suicídio na mais tenra idade.
Cleópatra é dos personagens mais misteriosos, emblemáticos e atraentes da História. 




Sinônimo de poder e sedução, a rainha egípcia que foi amante dos romanos Júlio César e Marco Antônio, e que se matou pra não ser morta, só podia também ser a história que salvaria os estúdios de Hollywood do começo dos anos 60 da falência certa.



O projeto, ambicioso desde o início, tentaria salvar a audiência perdida com o crescimento da televisão, mas Cleópatra acabou sendo um dos filmes mais azarados de todos os tempos. E também dos mais caros. Extrapolando e muito o orçamento inicial, custou 44 milhões de dólares.




A escolha para as locações foi um dos primeiros erros do projeto. Milhões de dólares começaram a ser torrados na construção de duas cidades cenográficas. Em um terreno da Inglaterra, Roma e Alexandria fictícias eram erguidas com um verdadeiro exército de trabalhadores e materiais caríssimos. Só não pensaram numa coisa: o horrível clima da Inglaterra.




Choveu por dias, semanas a fio. Isso não somente atrasou as filmagens, como destruiu incontáveis peças do cenário. Todos os dias, era possível ver colunas, esfinges e outras peças das filmagens sendo danificadas pelo efeito das chuvas, as quais eram substituídas, para depois serem destruídas novamente e novamente e novamente... e lá se iam milhões de dólares. Na foto, Liz com o filho, retocando a maquiagem.
Os atrasos também obrigaram o roteiro a ser reescrito.
Ao final do projeto, a pressão dos estúdios pela conclusão do filme era tanta que levou a um ritmo ensandecido nas filmagens. O cansaço do diretor era tanto, que para dormir e acordar ele tinha que tomar injeções de medicamentos.




Finalmente, decidiram transpor as locações para Roma, onde Cleópatra foi definitivamente filmado e onde os desastres, obviamente, não acabaram.




O filme só foi mesmo bom para Elizabeth Taylor, que ficou milionária com o filme. Foi a primeira atriz da história do cinema a receber 1 milhão de dólares para atuar, num contrato de um ano, o qual teve que ser renovado devido à sequência de desastres na produção do filme, que gerou um atraso de prejuízo estratosférico. O filme foi um sucesso, com uma aglomeração de pessoas em frente às portas dos cinemas, mas mesmo assim "só" conseguiu 26 milhões, ficando no vermelho, mesmo com todo o frisson que o filme causou na mídia. 




Na época, incontáveis marcas publicaram anúncios com o tema Cleópatra, enquanto comediantes da TV faziam sátiras sobre o mesmo tema e revistas de moda divulgavam novas tendências em vestidos inspirados na moda da rainha egípcia, a qual casou perfeitamente com a moda da época, que já envolvia cabelos geométricos com franjinha (a la pin-up Bettie Page) e maquiagem com olhos bem destacados.





Do começo ao fim, o filme foi uma sucessão de problemas, com constantes substituições de diretores e uma produção caótica, que fazia as centenas de figurinistas ficarem esperando ao sol sentados por dias a fio, para poderem filmar, desperdiçando tempo e dinheiro, numa desorganização total. As cenas que você vê acima, com Liz Taylor, só puderam ser filmadas muitos meses após o início das filmagens, porque a atriz ficou gravemente doente e quase morreu de pneumonia. Liz foi hospitalizada, entrou em coma e tiveram que fazer uma traquiostomia de emergência para que ela pudesse respirar, daí a cicatriz na base do pescoço, que pode ser vista na primeira foto e que por muitas vezes foi escondida por uma grossa camada de maquiagem.




Recuperada, Liz começou a filmar, mas ela não foi a única atriz a ter problemas de saúde durante as filmagens. 
Uma das dançarinas caiu de cima de um elefante e foi parar no hospital. Foi substituída e, como a cena terminava com o ator a segurando no colo, mais um tombo: a atriz era mais gorda, ele nao aguentou o peso e caíram os dois, quase se fraturando.





Outro problema a ser resolvido: o filme durava 6 horas. O povo se abarrotava pra assistir nas portas do cinema e eles perceberam que um filme tão longo não permitiria que muita gente visse o filme num curto espaço de tempo e eles perderiam dinheiro.
Fizeram cortes de última hora, cortando cenas boas.




No dia da premiere, Liz Taylor estava tão contrariada por conta dos cortes que ao adentrar o salão foi direto ao banheiro vomitar.
Um dos atores que trabalhou incansavelmente nas primeiras filmagens teve suas cenas cortadas.
Um ator que era principal foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante, o que gerou um mega mal entendido e desconforto. 
Enfim, foi um show de foras, tragédias e prejuízos épicos.




Fazer Cleópatra com tantos contratempos só foi possível porque o projeto foi circundado de muita obsessão desde o início, o que justificava o ir em frente, mesmo com tantos problemas. 




Justificava também, para eles, a gastança e a preocupação excessiva com os mínimos detalhes, que iam desde a fenominal cidade cenográfica construída, até os menores adereços, como colares e cajados.




O documentário que conta a história da produção do filme conta que, numa das cenas, deram um cajado magistralmente esculpido a um dos atores coadjuvantes, que não viu tanta utilidade no adereço e perguntou: "Tenho mesmo que entrar com isso?". O diretor na hora pegou o adereço - caríssimo, por sinal - jogou pro alto e disse: "Não, não tem".
Desperdícios assim via-se a todo o momento nas filmagens de "Cleópatra".




Quando o filme foi lançado, outro desafio foram as críticas, algumas positivas, mas outras muito negativas. Uma delas chamava o filme de algo como "um colossal rato", dizendo que o filme era uma super produção cuja história não chegava a lugar algum.





Outro desafio para os produtores foi reverter o impacto negativo com o affair entre Elizabeth Taylor e Richard Burton, que interpretava Marco Antônio.




A química entre os dois, dentro e fora das telas, foi tanta, que numa das cenas de beijo, o diretor gritou: "Corta!". E o beijo continuava... "Cortaaaaaaaa!". E eles continuaram se beijando. "CORTAAAAAA!!!". E foi risada geral no set.




Ambos eram casados. Por isso, os produtores tentaram manter o segredo até quanto puderam, para evitar o escândalo, pois, na época, a sociedade não tolerava isso e pegava muito mal tanto para os atores quanto para o filme.




As fotos dos dois em momentos íntimos logo ganharam as páginas das revistas e Liz Taylor ficou famosa como a "destruidora de lares", ganhando até uma reprovação oficial do Vaticano, que alertava para o mau exemplo da conduta da atriz na educação dos jovens.
O divórcio também causou consequências desastrosas para o marido de Elizabeth Taylor, que voltou para os Estados Unidos completamente humilhado, após passar dias deprimido na cama.





Dizem que Liz passou a olhar para Burton com olhos diferentes, num dia em que ele chegou bêbado no set. Ele estava tão bêbado, que tremia, e ela o ajudou lhe dando café na boca, enquanto Burton dava risada e se divertia com a situação. Alguns biógrafos dizem que Burton despertou em Liz um instinto maternal cuidador. Na realidade, o ator já comprovava o alcoolismo desde aqueles tempos, alcoolismo este que teria sido a razão do fim do relacionamento deles.




Elizabeth se casou com Richard não somente uma, mas duas vezes. E as duas vezes deram errado. Os dois brigavam muito, mas mesmo após o segundo divórcio Liz sempre tecia elogios ao ex-marido, dizendo que ele era um homem maravilhoso e pai amoroso. Dizem que realmente se amaram, mas viviam em sintonias diferentes.




Hoje a gente assiste Cleópatra e só acha lindo e maravilhoso, sem ver o trabalho que deu e sem conseguir imaginar outra atriz para ser Cleópatra, o que mostra que, definitivamente, TUDO PASSA.
Realmente, não poderia ter havido melhor escolha para o papel e os testes feitos para a Cleópatra ideal foram muitos. Até Marilyn Monroe quis o papel e muitos nomes foram considerados.
Sophia Loren (foto), entretanto, já havia filmado Cleópatra antes, numa comédia italiana.




A também belíssima Vivien Leigh havia interpretado Cleópatra muitos anos antes, num filme bem menos audacioso.



A primeira atriz a interpretar Cleópatra, no cinema mudo, foi Theda Bara, e foi esta foto que acendeu a chama dos primeiros ambiciosos produtores do filme de 1962, que acabou ganhando muitos prêmios, entrando para a história do cinema, com suas maravilhas, romances e desastres.




Anos mais tarde, nos anos 90, a história das filmagens de Cleópatra inspiraram preocupações quando outra mega produção começou a ser cogitada. Temia-se outro desastre financeiro. Entretanto, Titanic provou ser altamente rentável e mais uma mega produção de Hollywood. Outro filme tão inesquecível quanto Cleópatra, porque também soube dosar muito bem o drama épico com a química perfeita de seu par romântico.

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