terça-feira, 10 de setembro de 2013

10 DE SETEMBRO - DIA DO GORDO


Vai! Se joga que hoje - 10 de setembro - é Dia do Gordo.

Mas e daí? Amanhã volta a ser dia do magro, assim como depois de amanhã e depois de depois de amanhã... E o que eu farei com estas calorias encarnadas no meu corpitcho?

Bom, ninguém está aqui para incentivar a gulodice ou a obesidade mórbida, mas também não vou apoiar a chatice que acaba com tudo que faz as pequenas alegrias de viver do nosso dia a dia.

Claro, se você é magra e alta e quer ser modelo, existe um padrão exigido pelo mercado. Nada de pirar pra se amoldar em algo que você não é. As modelos são daquele jeito porque nasceram assim, mas óbvio que depois dos 30 elas já não entornam camafeu de nozes e pizza com catupiry todo dia. Apesar de eu já ter visto Alessandra Ambrósio tomando sorvete várias vezes.


Gisele Bundchen há alguns anos numa entrevista declarou que ao voltar das viagens ao Brasil sempre enchia a mala daquela pipoca doce do saquinho rosa, sabe? Também nunca escondeu de ninguém que pedia pra abarrotarem seu camarim de brigadeiro e coxinha. E ainda ficava com esse corpinho! Ai, mata ela, gente! Tem horas que eu acho que ela não é desse mundo.

Mas enfim, o dia  hoje é do gordo, né? Então volta pra Terra, Adriana Moura. Eu dizia que a gente tem que ter equilíbrio na vida e procurar fazer não só o que gosta, mas o que gosta e o que faz bem. Desta forma, sempre haverá um lugar ao sol para você.
Ter equilíbrio é ter, sim, uma dieta balanceada e uma rotina de exercícios, que é super saudável, algo que hoje em dia a Gisele, após dois filhinhos, faz e muito. Mas a gente também tem que se dar ao direito de vez por outra comer algo gostoso, que nos agrade, que nos traga felicidade, afinal de contas só se vive uma vez. Não deixe a sociedade escravizá-la, pois esta, aliás, sempre tem uma forma de repressão contra a mulher e até uma maneira de dividir a população em status. As ricas e bem sucedidas - e consequentemente as bonitas - do século 15 eram rechonchudas. Não exatamente redondas como as divas de Botero - nada contra elas, só estou relatando uma análise sociológica - mas tinham quadris largos, coxas cheias de celulite e braços de matrona.
Quanto ao conceito de beleza de rosto, pouco mudou desde que a humanidade existe, pois baseia-se na lei da simetria, que nada mais é que pura matemática. O cérebro entende como belo um rosto harmônico, em que as medidas horizontais e verticais do rosto sejam proporcionais e simétricas. É por isso que o nome de Nefertite, rainha egípcia da Antiguidade reconhecida por sua beleza, é usado hoje em dia para nomear tratamentos estéticos. E é por isso também que se você observar o rosto de uma estátua grega de antes de Cristo ou o rosto de uma pintura renascentista, verá que aquela pessoa poderia ser considerada bela ainda hoje.
Mas então por que as regras do que é um corpo bonito mudam tanto? Porque estão inconscientemente ligadas ao domínio econômico. O que é bom e ideal é ter dinheiro e sucesso, por isso o estilo de vida das ricas é imitado e dita moda. Na época de Da Vinci, as ricas não precisavam camelar no campo, por isso não queimavam sua pele ao sol. E como não faziam nada, pois eram nobres, naturalmente tinham corpos mais moles e engordavam mais do que as que trabalhavam muito, inclusive pegando na enxada e tirando água de poços. Vá fazer isso pra você ver. Acho que equivale a umas 10 aulas de pilates.

Aqui o corpo de uma das musas de antigamente:


A banhista de Renoir.



A Vênus de Alexandre Cabanel (século 19): culote, quadris largos, nada de músculos e barriga reta porque tá deitada, né fofa.

Hoje em dia, o que fazem as ricas? Tem dinheiro para malhar nas melhores academias, pagar um bom médico ortomolecular, tratamentos estéticos e produtos de beleza caríssimos, cirurgias reparadoras, dieta balanceada, que também é mais cara - compare os preços dos produtos ditos normais com os orgânicos, diet, light, 0% de gordura e blá blá blá. Elas também podem pagar viagens pelo Caribe ou pelas praias do Mediterrâneo, de onde voltam com aquele bronzeado da Adriane Galisteu.
Aos poucos, o padrão de beleza passou de magra para magra e condicionada. Mas ninguém é obrigado a seguir um padrão específico. O que a gente tem que ter é saúde e bom senso, pois gente com saúde dificilmente será feia e deselegante, e procurar se aceitar e se encontrar em seu próprio nicho de mercado.

A boa notícia é que hoje as modelos plus size têm feito muito sucesso também. Talvez ainda não tanto quanto as magras, mas as gordas também ganham um bom dinheiro e fazem editoriais belíssimos. Sim, vamos falar gordas, por que não? Senão fica parecendo aquela história de chamar negra de "moreninha" ou "de cor". Até parece que é algo para se envergonhar. Se ninguém tem que ter vergonha de dizer que é branco, mesmo havendo aí nesse meio uma série de nuances, que vão do rosado ao pêssego, em tonalidades que devem ser até centenas, por que ter vergonha de dizer que é negro, ou de ter em seu DNA o sangue negro, seja ele em que proporção for. Não há razão para isso, pois a teoria das raças já caiu por terra, geneticamente, há muito tempo. Não há "raças" humanas. O que existe é A RAÇA humana, encontrada em diversas cores e tamanhos. Mas falarei melhor sobre isso num post referente à cor da pele, pois ainda há muito preconceito no mercado de modelos no que se refere à inclusão de modelos negras.
Da mesma forma, há preconceito a gordos, que se ofendem ao serem chamados de gordos, mas não deveria ser ofensa, embora muita gente assim os chame na tentativa de humilhá-los.
Há muita gente que sofre por se achar magra demais. Eu mesma, na adolescência, sofri bullying e chorei muito por ser chamada de 'esqueleto', 'Olívia Palito' e ganhar outros apelidos nada agradáveis. Hoje, com quase 40 anos e minha dose de pneuzinhos e todo o pacote que vem com a desaceleração do metabolismo, é que percebo o quanto é idiota a gente se preocupar com as críticas das pessoas. A gente não deve se largar, mas quem não vive do corpo não tem por que ser obcecado com a perfeição. E ser perfeito para que e para quem? Será que estamos nos preocupando em ser perfeitos por dentro tanto quanto nos preocupamos em ser perfeitos por fora?
Com  uma boa dose de auto-confiança, talento e determinação, muitas gordinhas têm mostrado sua beleza e conquistado seu espaço no mercado de trabalho como modelos plus size, mostrando que a beleza não cabe só numa calça jeans 36.


Alguém duvida que esta moça é linda? E não me refiro só à beleza do rosto. Ela simplesmente aceitou seu tipo, sem o fanatismo pela magreza excessiva. Mostra que, estando com saúde, não tem por que emagrecer. Aliás, por ter menos concorrência, o mercado das plus size anda até mais promissor que o das magrinhas, embora elas ainda tenham muito chão para percorrer até que seu padrão seja aceito nas grandes passarelas das mais importantes semanas de moda do mundo. Mas aí entram outros argumentos dos próprios estilistas, que tem até uma razão de ser. As modelos, quando começaram, não eram celebrities. Eram cabides mesmo. O importante era mostrar a roupa e curvas demais distraem a plateia. Mas eu acredito que ainda muitos conceitos podem mudar no futuro. Esperemos.

No que diz respeito à indústria da moda, esta já abriu os olhos para as plus size faz tempo e a cada dia se moderniza e amplia sua gama de produtos, passando a oferecer não apenas roupas, biquinis e vestidos de noiva plus size, mas também sensuais lingeries, como mostra a modelo da foto, com peça da marca Sizély, encontrada na Acalanto Lingerie, em Catanduva, à rua Maranhão, entre a Minas Gerais e a Bahia.



Mas se você não é plus, não fica triste, não. Ninguém está tendo preconceito contra você. A marca também veste outros tamanhos.


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