Dia Nacional do Teatro - Rafael Cervantes, talento dos palcos de Catanduva

Não poderia haver melhor pessoa pra eu homenagear para o dia de amanhã, 19 de setembro, Dia Nacional do Teatro.
Conheço Rafael Cervantes bem antes de conhecê-lo. Explico: quando ia ao teatro, a oficinas, workshops, debates ou qualquer outro evento envolvendo artes dramáticas, eu e o Xuxa sempre o víamos e Rafael sempre foi alguém impossível de não ser notado. Rafael tinha presença e, sempre muito inteligente, fazia excelentes perguntas, participava com atuações marcantes e ainda por cima fazia a gente rir.
Também não dá pra não se emocionar com a sua dedicação à arte teatral, seja no palco, como ator, seja dirigindo, impecável, seja como cenógrafo, super criativo, seja como figurinista, surpreendente e um hard worker incorrigível - esta característica ele deve ter herdado da mãe, dona Neide, costureira talentosa.

E foi assim que eu fui conhecendo o Rafael, primeiro como ator, depois como diretor, um faz-tudo do Teatro, e, acima de tudo, uma pessoa muito humana, com grande capacidade de amar e de ajudar, como todo ARTISTA deve ser.

Nunca esquecerei suas performances, como quando assisti seu Bruxo na peça "A Bruxinha que era boa", entre tantas e tantas em que ele atuou. Eu diria que até centenas. Por isso penso que Rafael Cervantes é uma celebridade catanduvense a ser lembrado neste dia 19, Dia Nacional do Teatro, pois poucos artistas são tão versáteis quanto ele.

Rafael trabalhou no Galpão 6, onde teve atuações espetaculares, no palco e nos bastidores, causou polêmica, ganhou prêmios, recebeu elogios da crítica e convites de companhias de outras cidades, dirigiu várias peças, inclusive textos de Plínio Marcos e Nelson Rodrigues. Nunca esquecerei seu "Boboplim".

Seria impossível mencionar todos os trabalhos deste magnífico artista, pois o teatro praticamente se funde à sua vida. O palco é o mundo de Rafael e ele se dedica a ele com uma abnegação que vai muito além do dinheiro.

Participou de várias oficinas de figurino, cenário e maquiagem, que lhe rendem hoje a sabedoria que tem. Não me esqueço de certa vez, dentre as centenas de figurinos que fez para o Colégio Jesus Adolescente, um dos figurinos chamar ainda mais a atenção do que os demais. Era a roupa do personagem Castor, interpretado por um aluno. Todos, ao final da peça, me perguntavam que tecido era aquele, se tinha sido muito caro, se era couro... pois tinha ficado incrível! O tal tecido 'incrível' nada mais era do que uma chita vagabunda que havia passado por um processo meticuloso, que envolvia, dentre outras coisas, um banho com borra de café. E Cervantes tinha e tem esta grande capacidade - só encontrada nos grandes - a de tirar 'leite de pedra', a de fazer muito com pouco, a de dar um jeito pra tudo, sem reclamar, e aceitar as críticas com naturalidade. Tudo isso aprendi com ele, nas poucas peças nas quais trabalhamos juntos e nas poucas vezes em que tivemos projetos em parceria e pude comprovar o grande coração que ele tem e a grande dedicação e profissionalismo com que ele toca seus projetos.

De tudo que ele é capaz de fazer com competência, o que eu mais admiro é sua capacidade de inspirar e de mudar talvez o destino de muitas pessoinhas. Por isso, gostaria de destacar, neste post, dentre tantos seus trabalhos (que foram muitos e seria impossível aqui falar sobre todos), seu mais recente trabalho como professor de teatro das crianças moradoras do Pachá.

Crianças carentes de muita coisa e que puderam, através do teatro, apreender as ferramentas invisíveis, mas eficientes, para tornarem-se cientes de seu valor e do que podem ser, pois o teatro tem essa capacidade, não apenas de relevar os talentos dramatúrgicos, mas propicia a cada um de nós um crescimento interior, enquanto seres humanos, que vai muito além disso. É algo que não alimenta, como o pão ou o peixe, mas é uma das varinhas 'mágicas' para se ensinar a pescar. Desenvolve a auto-estima e a auto-confiança em quem o pratica, desenvolve o conhecimento e a capacidade de se relacionar com o próximo (por isso é indicado para todas as profissões e deveria ser matéria obrigatória nas escolas), coloca alegria nos olhinhos de crianças que antes talvez não soubessem do que eram capazes, mas que, agora sim, no teatro e nas danças, mostram que podem encantar e mostrar toda a sua beleza e criatividade.

"Foi um trabalho emocionante", conta Rafael, sobre o espetáculo apresentado este ano. Ele conta, emocionado, que durante os ensaios os personagens das crianças exigiam que cada uma tivesse uma boneca nos braços, fazendo-a de bebê. Mas havia uma criança que não segurava uma boneca, mas um amontoado de panos. "Ao final da aula, eu falei: 'Gente, hoje tudo bem, valeu, mas amanhã eu quero todo mundo realmente com uma boneca, ok?'. A tal garotinha veio até mim e me disse: 'Tio, mas eu não tenho boneca'. Todo mundo ficou emocionado e se mobilizou para dar uma boneca pra ela. E foi a primeira boneca da vida dela. Não dá pra descrever a sua emoção e não dá pra descrever como às vezes com tão pouco somos capazes de gerar tamanha alegria".

Também não dá pra expressar o quanto Rafael já me emocionou com suas atuações.
Feliz Dia Nacional do Teatro pra você, Cervantes! Você é um talento de Catanduva. Você é um lutador. E você merece e tem um anjo no Céu que o admirava aqui na Terra e sonhava em fazer você dirigir o grupo de teatro da Igreja Presbiteriana, o que nunca aconteceu. Muitas coisas não acontecem. Mas assim é a vida. Muitas portas se fecham, outras abrem, como as cortinas do teatro, que abrem e fecham, abrem e fecham, constantemente... Because the show must go on!