sábado, 21 de setembro de 2013

Fashion Interview - O vento da criatividade sacode a cabeleira vermelha desta Florence


Quando o vento sacode a cabeleira vermelha de Florence, ele deixa muita inspiração. Florence Manoel, jornalista e escritora, é uma mistura de camaleoa com beija-flor. Sempre lépida e faceira, beijando as flores de cada momento da vida e retirando de seu nectar o aproveitável para produzir algo tão visceral que, transposto para o papel, tem a aspereza cortante de um punhal reluzente e o elixir libertário que a dança mais sublime das palavras é capaz de preparar.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com este azougue ruivo, um talento jovem e elétrico de Catanduva.






Catanduva Fashion - Florence, você escreveu um livro e já até falou sobre ele num curso do Senac, sobre a história do nome feitiço em Catanduva. De onde surgiu a ideia para este trabalho?


Florence Manoel - Na verdade, o material que utilizo em minhas palestras - e até hoje foram quatro: duas no Senac, uma no Centro Cultural e uma na Pérgula da Praça da República, por meio do Festival de Formas Poéticas – é basicamente o meu Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo do IMES.
 Trata-se de um livror-reportagem chamado “O Feitiço na Cultura Catanduvense”, que aborda a relação entre Catanduva e o cognome “Cidade Feitiço”, que o município recebeu na primeira metade da década de 40.
Ele é dividido em quatro capítulos, sendo que no primeiro falo sobre feitiçaria e a maneira como os chamados feiticeiros influenciaram as sociedades em que estiveram inseridos. No segundo capítulo, resgato o nascimento e a projeção de Catanduva, bem como as diferentes alcunhas que o município recebeu ao longo de sua história. No terceiro, falo sobre as influências do apelido “Cidade Feitiço”, ou seja, intituições ou orgãos que adotaram a ideia de feitiço em seus nomes ou slogans ou a imagem da bruxinha no logotipo. E, para finalizar, conto sobre um período em que a bruxinha trouxe polêmica para a cidade: quando foi inserida no logotipo da prefeitura, durante a gestão Carlos Eduardo.
A princípio eu queria fazer um trabalho investigando a homossexualidade sob o prisma de diversas religiões e cheguei a ler sobre a Umbanda, o Islamismo, o Espiritismo e o Budismo, mas, na faculdade, o professor Evandro Hernandes sugeriu que eu trabalhasse a bruxa e me apaixonei pela ideia. Por isso, continuo bastante envolvida com o assunto.






CF - E em que pé está este projeto? Parece que ele será incrementado com fotos. Como será isso?



FM - Desde que comecei o trabalho, pensei em publicar, já que “descolei” curiosidades sobre nossa história que muitos catanduvenses desconhecem – e quando ouvem se deliciam.  Pensava em veicular em formato de livro, mas agora estou cogitando fazer uma revista especial para o aniversário de Catanduva do ano que vem. Tem fotografia de alguns entrevistados, e de alguns acessórios e logos que remetem à bruxa.





CF - Você também é uma poeta, cronista muito ativa. Seus textos são lindos. Têm alguns de estimação?



FM - Gosto muito de um artigo que nomeei como “Justiça e Liberdade ao Vocábulo”, porque a liberdade está presente no conteúdo e na forma do texto, foi um bom exercício de criatividade. Repare:
Parece que me ocorreu e talvez não seja bem isso e que vontade de bagunçar a pontuação a la Bukowski e, lindamente, num fracasso de sorriso, mentir. Ou não.
Parece que me ocorreu que a repetição não é sempre feia. E também que a liberdade é uma palavra mal aproveitada. Digo isso porque – sinta-se na liberdade de não ser convencido. Digo isso porque seu emprego nos discursos cotidianos óbvios e gastos a desvaloriza, como palavra qualquer, como se chamasse prego.
A liberdade, ao que me parece, perdeu sua poesia de brisa e algodão, bem como o reconhecimento de sua força em tantas histórias heróicas. Perdeu no exato momento em que um infeliz afirmou: “Fulano quer mais liberdade”. Paradoxalmente, quem o fez, usufruiu de sua liberdade verbal-adverbial-substancial”.

Também gosto muito de “O Homem Dourado”, um conto em que descrevo o desconcerto de uma mulher ao acordar com um desconhecido em sua cama. Ela imagina mil formas de proceder e acaba agindo de maneira bastante inusitada. Veja um trecho:

“Abriu os olhos de gata ferida e moveu-se letárgica, na tentativa de reencontrar na própria pele cada palavra dita na noite anterior. Queimaduras explícitas de um passado muito recente.
Pequenos e fragmentados os instantes, pétalas de flor submersas na saliva. Delicados como uma pluma. Raras pérolas da vida, de beleza efêmera, flutuante e verdadeiramente vertiginosa. Despretensiosa.
Abraçou ao edredom com as unhas, com a força infecciosa que já não havia. Mordeu o lençol com paixão. Cheia de compaixão pela cama fria.
Atirado aos pés da cama,um homem bonito, dormindo pesado .Embriagado. Esfarelado de volúpia. E completamente desconhecido.
Sedentamente desfalecido, nessa aquarela surda e muda . Um homem dourado cintilando incansavelmente sob o miserável ventiladorzinho.”





CF - O que te motiva a escrever?



FM - Desde criança gosto de escrever. Sempre gostei das aulas de Redação e de Literatura e me dava bem nessas matérias. Quando fiz cursinho só aparecia nessas aulas e nas de História e Geografia e cheguei a prestar Artes Cênicas na Universidade Federal de Ouro Preto, com a intenção de virar roteirista de teatro e “viver de arte”.
Aliás, na escola cheguei a escrever uma peça chamada “Vacas não voam e loucos não morrem”. Era sobre uma andarilha que tinha problemas mentais e acreditava ser Janis Joplin. Na história, ela é abordada por uma groupie, que ama “roqueiros-cabeludos-com cara de mau” e resolve tirar sarro da “Janis”. Quando a groupie começa a gritar “Dêem dinheiro prum goró, estamos diante de uma estrela”, um ladrão extremamente burro passa por elas e acredita no que ouve. Ele faz as duas reféns.
Às vezes, quando ouço uma música, leio ou assisto algo que me chama muito a atenção, ou até mesmo quando vejo imagens inusitadas em outdoors ou escuto uma história interessante de algum amigo, fico inspirada e passo pro papel.





CF - Inclusive você vai também publicar um livro com seus contos e poemas, com fotos, é isso?



FM - Tenho uma prima chamada Aline Baker, que é uma fotógrafa muito talentosa. Uma vez a mãe dela sugeriu que fizéssemos um trabalho em conjunto para expôr nos metrôs de São Paulo. Ela tiraria fotos inspiradas nos meus textos e eu escreveria textos com base em suas fotos.
Cerca de cinco anos se passaram e resolvi resgatar a ideia, mas em vez de fazer uma exposição, reunir o material em um livro. Falei com a Aline e ela adorou. Já enviei uns 10 contos para ela fazer a versão fotográfica.





CF - Você é letrista da Banda Vintage. De onde vem tanta inspiração?



FM - Tenho mais facilidade para escrever em verso do que em prosa, por isso sempre componho com meus amigos músicos. Resolvemos, em 2009, montar a Estação Vintage. Por falta de tempo, em alguns momentos, e de músicos, em outros, acabamos deixando o projeto de lado. Mas, agora, que temos a banda completa, resolvemos retomá-lo.
Como disse, o inusitado me inspira. Além disso, gosto de pôr meus sentimentos, pensamentos e visão de mundo no papel. 





CF - E por falar em vintage, você se considera vintage? Qual seu estilo?



FM - Não saberia definir meu estilo, mas gosto muito de peças vintage. Às vezes tenho que me controlar para não sair de casa fantasiada de pin-up, rs. Tenho três vestidos de bolinha!
Outros acessórios que adoro são boinas, toucas estilosas, cachecol, lenços, coturnos e peças de crochê.





CF - Como você vê o mundo da moda?



FM - Eu acho que a moda é arte, já que depende do imaginário de alguém para existir. Além disso, as criações dos grandes estilistas costumam ser provocativas, apelar para os sentidos, mexer com a cabeça das pessoas, o que é quase obrigatório nos bons filmes, quadros e livros.
Porém, acho lamentável a postura das pessoas que se deixam escravizar pelas tendências, porque além de demonstrarem não ter autoconhecimento e autenticidade, são indivíduos que negligenciam seu próprio potencial criativo – que poderia ser explorado na simples composição de um look.



 






     

3 comentários:

  1. Florence. acabo de reparar melhor na foto em q vc mostra proposıtalmente seus joelhos machucados e ao menos eu entendi assim e eu gostei mt desta foto e so agora me dei conta q ele me faz lembrar um conto do meu lıvro Espelhos. Lembra...

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