quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Especial Ano Novo - "Não há nada de novo sob o céu"


“Não há nada de novo sob o céu”

                Davi, Rei de Israel, teve muitos filhos, a maioria deles, como ele, com muito sangue nas mãos, verdadeiros guerreiros nas diversas batalhas que solaparam o reinado e a vida de um dos personagens bíblicos mais importantes, a ponto de fazê-lo ter uma vida relativamente curta, em comparação com os demais relatados.
Os filhos que mostraram poderosos feitos na guerra certamente esperavam ser seu sucessor. Um deles, Absalão – dizia-se dele forte e bonito – liderou uma rebelião contra o próprio pai, querendo lhe usupar o trono mesmo antes dele morrer. Digamos que Davi até pode ter tentado, mas como chefe de família não foi lá aquelas maravilhas. E talvez a cada Ano Novo tenha lamentado os erros que cometeu. Ah... e como Davi lamentou. Davi não foi idiota o suficiente quanto tantos de hoje em dia que batem no peito pra dizer: “Não me arrependo de nada que fiz, só do que não fiz”. Não, Davi sabia no que tinha errado, mas tentava acertar, com todo o seu coração. Seus erros o torturavam como uma lança o atravessando de fora a fora, numa intensidade quase tão grande quanto o seu amor pelo Criador, e foi por isso que ele foi considerado um homem “segundo o coração de Deus”. Nossas ações o homem pode julgar, mas só Deus sonda os corações e as intenções.
                Voltando à filharada... o destino de Absalão foi a morte precoce, o que muito entristeceu a Davi. Mas os demais filhos talvez nunca tenham imaginado que o trono não iria para nenhum filho soldado. O trono foi para o filho poeta. O filho que Davi teve com Bathsheba: Salomão, o tal até hoje conhecido por sua riqueza e sabedoria.
                Salomão teve um reino tão próspero que atraiu a curiosidade dos reinos vizinhos e recebeu uma inusitada visita da Rainha de Sabá. Salomão viveu nababescamente e sua excentricidade inclui um amontoado de 300 mulheres e 700 concubinas. Em seu livro de Cantares, o poeta faz declarações de amor. Não se sabe ao certo quem foi que Salomão amou. Pois alguém com 1000 mulheres não ama nenhuma. É como aquela história do amigo entre 1000 do Facebook que nem sabe que você existe. De alguma forma a prosperidade material subiu à cabeça do Rei a ponto de ofuscar-lhe a visão para as coisas desta vida que realmente valem a pena. E é no livro de Eclesiastes, o que ele escreveu já no final da vida, que o poeta monarca destila todo o seu fel e amargura para com o que ele fez de sua vida. E muito do que lemos ali, quando ainda não acumulamos determinadas experiências, sequer podemos entender, como, por exemplo, quando ele diz que prefere estar num funeral do que numa festa. Só quem já viveu a dor do luto sabe que ela dói, mas, por outro lado, nos confronta com a mais absoluta das verdades e, para o cristão, a certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Por outro lado, não se pode confiar na alegria passageira de uma festa, onde o vinho e a falsidade muitas vezes bebem da mesma fonte. Nessas horas nunca se pode saber quem é teu amigo de verdade. E com certeza Salomão se confrontou com ambas as realidades.
                Dentre tantos outros versos tão amargos quanto intrigantes, do mesmo livro em questão, está a famosa frase: “Não há nada de novo sob o sol”. E aí ele segue dizendo: “Tudo é canseira e enfado; tudo é correr atrás do vento; tudo é vaidade; tudo”.
                Passeando pelas ruínas lícias da costa da Turquia tive o prazer de contemplar os restos de uma civilização que floresceu antes de Cristo, em meio à exuberância da vegetação mediterrânea. Dentre estas ruínas, sepulcros de gente rica, já depredados. Dentro deles, o que restou? Poeira e algumas folhas aqui e ali. De fato, se aquele que ali foi enterrado era bonito ou feio, se ele se vestia de trapos ou do mais puro linho, que importa agora? Salomão estava, afinal, cheio da razão. Tudo é vaidade. É só uma questão de tempo.
                Mas e o novo? O novo que tanto procuramos? Salomão diz que não há nada novo sob o sol. Isso significa que, de uma certa forma, tirando os penduricalhos e os acessórios, na essência, através dos séculos, a humanidade nunca mudou de fato e se manteve repetindo os mesmos erros.
Por outro lado, quem (com mais de 30 anos), já experimentou a sensação de estar vivendo ano após ano uma certa rotina e aquele sentimento de que os acontecimentos ao redor de si se desdobram de forma cíclica: os calendários, as datas comemorativas, as tradições, as festas, os aniversários, os casamentos, as estações, as específicas épocas do ano, os eventos edição número 1, número 3, número 5.000, o Missão Impossível I, o II e III, o casa-separa, o volta-briga, o aperto de mãos-tapa na cara, o inimigo que virou amigo, o amigo que virou inimigo – e isso já está ficando mesmo previsível – as realidades que poderiam ser solucionadas mas nunca são, os mesmos problemas de sempre, no Brasil e no mundo, os protestos que não chegam a lugar nenhum, o mendigo que foi ajudado e já outro mendiga em seu lugar, o traficante que foi preso e já outro vende em seu lugar, o acidente cujos restos mortais já foram resgatados, mas na TV as notícias divulgam outro ainda pior. E é outro avião que caiu, outra celebridade que morreu, outro escândalo que não escandaliza mais, outra mulher fruta, outra moda inspirada em outra que foi inspirada em outra. A nova isso, a nova aquilo, que na realidade é a mesma coisa. A filha da Elis Regina, que canta igual a ela. O Roberto Carlos, que canta a mesma coisa todo ano. E a Xuxa, que... né? Não precisa nem falar nada.
                E vem novo carnê de IPTU. Novo? E vem nova lista de material escolar. Nova? E vem notícia ruim. De novo. E vem notícia boa, mas também temos saudades do passado. Afinal, há algo de novo sob o céu? E se há, será que realmente o buscamos ou só falamos isso da boca pra fora? Muita gente diz que gostaria de dar uma guinada, mas só o faz quando não tem mais alternativa. Então às vezes as coisas têm que acontecer à sua revelia, para o seu próprio bem, pra que o ‘novo’, não o que Salomão pensou que não tivesse mais, se estabeleça de fato e finque em sua biografia raízes que você agradecerá no futuro.
                Em 2014, não seja relutante a mudanças, receba-as de coração aberto, sem frustrações, sem preocupações, sem amargura, sem ingratidões, lutando contra a ansiedade e a descrença, mas sempre com o pé no chão, a fé em Deus e o coração puro. Em 2014, seja agradecido ao passado, mesmo que este passado, seja ele 2013, ou anos ainda anteriores, tenham te machucado tanto, pois em tudo – absolutamente tudo – há um lado positivo a se aproveitar. Não podemos mudar muitas coisas que a vida nos impõe, mas podemos decidir o que fazer com o que a vida nos impõe, de que maneira reagiremos, se a ética prevalecerá acima de tudo, se iremos ser fiéis ao que somos, ao que acreditamos, ao que temos de real e indissolúvel nesta vida, que é aquilo que, no final de todas as coisas, nos mostrará que, afinal, algo muito importante, um dia, se renovará.
                E agora eu quero falar do aniversariante do mês passado: Jesus Cristo. E finalizarei com uma frase que só poderia mesmo ter sido dita por ele e não por Salomão, que, apesar de rei, não passava de um homem comum. “Eu renovo todas as coisas”. Cristo é renovação. Renovação de vida. E vida eterna. Nada que ele muda pode ser mudado novamente, porque ele é o dono do presente, passado e futuro dos que Nele confiam e suas mudanças não podem ser corroídas pelo tempo.
                Neste mundo, realmente, tudo passa. E algumas coisas são cíclicas – voltam a acontecer. Nem sempre do mesmo jeito, mas podem voltar. Mas é preciso aprender a lidar com a finitude de algumas coisas e o começo de outras. Assim é a vida. E é preciso também estar aberta ao recomeço.
                O Jornal do Comércio foi um projeto magnífico de ser feito e após mais de quatro anos de sucesso, entra em recesso com esta edição. Deixará saudades nesta jornalista e espero eu que em muitos leitores – sei que é vaidade, mas deixem-me ter esta, que também passará por sinal. As vidas tanto da entidade quanto desta jornalista passarão por mudanças muito positivas. O Sindicato terá seus investimentos concentrados em prol do comerciante, numa escala de prioridade plenamente justificável – enquanto esta jornalista se dedicará a seu projeto solo, sua revista virtual (www.catanduvafashion.com) que é um sucesso e que já conta com o Sincomércio como um de seus parceiros. Ali o leitor poderá conferir notícias do comércio, além de dicas de moda, beleza, viagens, gastronomia, arquitetura, dentre outras editorias interessantes, a um clique de suas mãos. Viaje nessa ideia, que é nova, é fashion e vai se renovar a cada dia. Um grande abraço a todos, meus agradecimentos por este tempo de jornal e um Feliz 2014 a toda população de Catanduva e região, aos leitores (comerciantes, comerciários ou consumidores) e à equipe Sincomércio Catanduva.

Um comentário:

  1. Parabéns Drica! Como sempre, arrasou na forma de expressar sentimentos sobre tantas situações da nossa vida! Que Deus continue te dando sabedoria, discernimento e muito sucesso nesta nova caminhada! Beijos, Tani

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